Análise do risco e vulnerabilidade à inundação na Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga

Abstract

Eventos extremos como as inundações têm se intensificado e tornado cada vez mais frequentes, afetando áreas urbanas e ribeirinhas e causando prejuízos econômicos e sociais. A pesquisa procura analisar o risco de inundação e a sua vulnerabilidade na Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga / Santa Catarina abrangendo 10 municípios. Segue dois eixos: um ligado ao ambiente natural e outro ligado a identificação das percepções de riscos pela população da área de alta vulnerabilidade socioambiental. Na definição das áreas vulneráveis ao risco de inundação utilizou-se do Método de Análise Hierárquica de Processos (AHP) em um ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG), cruzando os fatores declividade, altimetria, densidade de drenagem e uso e cobertura da terra. Realizou-se a análise das Portarias de Reconhecimento de Desastres emitidos pela defesa civil de cada município, a fim de aferir a magnitude de perigos naturais relacionados ao evento de inundação. Para identificar as percepções de riscos foi utilizada uma abordagem qualitativa com uso do instrumento de entrevista semiestruturada com os moradores de áreas de vulnerabilidade alta e muito alta ao risco de inundação a fim de compreender como os moradores percebem e avaliam o risco de inundação. A análise das entrevistas foi realizada por meio da técnica análise de conteúdo. As áreas com vulnerabilidade alta e muito alta ao evento de inundação correspondem a 50% da área total da bacia hidrográfica, coincidindo com as regiões de baixas altitudes e declividades e com alta impermeabilização da terra abrangendo grande parte dos municípios de Balneário Rincão, Criciúma, Içara, Jaguaruna e Morro da Fumaça. As regiões de menor vulnerabilidade encontram-se nas linhas divisoras de água da bacia, onde predominam grandes altitudes e declividades. Os municípios inseridos na referida bacia emitiram 81portarias de reconhecimento de desastres relacionados à inundação no período de 1998 a 2017, sendo o ano de 2011 o mais representativo da série histórica analisada com 20 portarias emitidas, seguidos dos anos de 2009 e 2010, com 12 e 17 portarias emitidas, respectivamente. Os dados referentes à percepção de risco dos moradores mostram que 67% dos entrevistados consideram a existência de riscos de inundação na área e que 96% já presenciaram um ou mais eventos de inundação. Por meio do mapeamento da vulnerabilidade ao risco de inundação, foi possível elencar as áreas de maior vulnerabilidade ao fenômeno da inundação, indicando áreas prioritárias para a realização de políticas públicas, demonstrando a eficácia do método AHP. Ao analisar as Portarias de Reconhecimento de Desastres pode-se aferir que os extremos positivos e negativos de pluviosidade são os principais responsáveis pelas emissões de portarias na região. A partir da análise da percepção foi possível compreender o comportamento dos atores sociais, como a aceitação ou não de determinados riscos. Resta que o uso de ferramentas de geoprocessamento e o uso da abordagem qualitativa no estudo da percepção socioambiental são de fundamental importância nos estudos sobre riscos, oferecendo subsídios ao planejamento e gestão territorial na implantação de medidas preventivas eficazes e compatíveis com os desejos da população.