Influência da estrutura da paisagem na composição da comunidade de macroinvertebrados bentônicos e na qualidade ambiental de dois costões rochososos do Atlântico Sul

Abstract

A ocupação costeira brasileira resultou na fragmentação de habitats naturais, impactando os macroinvertebrados marinhos, importantes bioindicadores da qualidade ambiental em ambientes entre marés. Este estudo analisou a influência da estrutura da paisagem na comunidade de macroinvertebrados bentônicos e na qualidade ambiental de dois costões rochosos no sul do Brasil: praia da Ribanceira (Imbituba, SC), em zona portuária, e praia da Cal (Torres, RS). Foram analisadas a cobertura e uso da terra, composição da comunidade macrobentônica, presença de espécies exóticas invasoras, índices bióticos, influência de fatores abióticos, conteúdo de elementos traço em mexilhões e qualidade ambiental integrada. A cobertura da terra revelou áreas antropizadas semelhantes, com maior pluma de sedimentos em Torres devido à vazão do rio Mampituba. O inventário registrou 20.670 macroinvertebrados de 103 taxa, com maior diversidade em Torres e maior frequência de espécies exóticas invasoras em Imbituba. As análises de similaridade indicaram diferença entre áreas e entre períodos pré-veraneio e pós-veraneio. O índice biótico classificou Imbituba como “não poluído” na primeira campanha e “levemente poluído” para as demais campanhas/áreas. A análise RDA demonstrou a influência da precipitação na composição da fauna e nas características fisico-químicas da água, especialmente na campanha 4 em Torres, impactada pelas chuvas em maio de 2024. A concentração de elementos traço foi maior em Imbituba e nas vísceras dos mexilhões, ressaltando a importância da evisceração para o consumo seguro. Foram detectados Mn, Fe, Zn e As acima dos limites estabelecidos, sugerindo riscos de contaminação alimentar e biomagnificação, principalmente na área portuária. A análise integrada classificou a qualidade ambiental como “ruim” em todas as campanhas, indicando que as atividades antrópicas prevalecem sobre a naturalidade da paisagem. O estudo amplia o conhecimento sobre a biota marinha do Atlântico Sul e reforça a importância dos macroinvertebrados bentônicos como indicadores ambientais para a gestão e conservação dos ecossistemas costeiros.