Aumento do tabagismo durante a pandemia de COVID-19 em adultos do sul do BRASIL

Abstract

Introdução: o tabagismo, reconhecido como doença crônica decorrente da dependência à nicotina, constitui um desafio significativo para a saúde pública global, sendo responsável por diversas doenças e mortes evitáveis. O Brasil, embora seja um líder no controle do tabaco, enfrentou um aumento potencial na prevalência do hábito de fumar durante a pandemia de Coronavírus (COVID-19), possivelmente devido aos impactos emocionais causados pela crise sanitária global. Objetivo: avaliar o aumento do tabagismo durante a pandemia de COVID-19 e seus fatores associados em adultos e idosos do sul do Brasil. Metodologia: foram utilizados dados de dois estudos transversais, de base populacional realizado em 2020-2021 nos municípios de Criciúma, Santa Catarina e Rio Grande, Rio Grande do Sul. O processo amostral considerou dois estágios: unidades primárias (setores censitários) e unidades secundárias (domicílios). Dentro dos setores sorteados, foram selecionados sistematicamente 607 domicílios em Criciúma e 900 domicílios em Rio Grande. Foram estudados os indivíduos com idade maior ou igual a 18 anos, moradores da área urbana das duas cidades. A variável dependente foi o aumento do tabagismo. Além disso foram incluídas como variáveis independentes características sociodemográficas, comportamentos de saúde, morbidade e estado de saúde. Foram realizadas análises descritivas de todas as variáveis pesquisadas, através da apresentação das frequências absoluta (n) e relativa (%). Análises brutas e ajustadas foram realizadas para avaliar as associações entre o aumento do tabagismo e as variáveis independentes estudadas, utilizando-se o teste Qui-quadrado de Pearson e Regressão de Poisson, considerando nível de significância de 5%. Os resultados da regressão foram relatados como razão de prevalência e intervalo de confiança de 95%. Resultados: Foram estudados 2.170 indivíduos. Dentre os indivíduos que referiram fumar atualmente (n=263, 12,1%), um terço relatou ter aumentado o consumo de cigarros durante a pandemia de COVID-19. Na análise ajustada, o aumento no consumo foi maior entre indivíduos do sexo feminino, com idade entre 18 e 29 anos e aqueles que tinham sentimento de tristeza. A prevalência de aumento de tabagismo foi 1,64 vezes maior em pessoas do sexo feminino em relação às pessoas do sexo masculino e 3,49 vezes maior entre os indivíduos com idade entre 18 e 29 anos do que em indivíduos com 60 anos ou mais. Além disso, aquelas com sentimento de tristeza tiveram prevalência 69% maior de aumento no consumo de tabagismo. Conclusão: Os achados deste estudo evidenciam um aumento significativo no tabagismo durante a pandemia de COVID-19, ressaltando a influência do sofrimento psicológico provocado pela crise sanitária global no consumo de produtos à base de tabaco. A prevalência elevada de aumento do tabagismo entre mulheres, jovens adultos e indivíduos com sentimento de tristeza aponta para grupos particularmente vulneráveis que necessitam de atenção especial em políticas de saúde pública. A pandemia exacerbou desafios preexistentes e destacou a necessidade urgente de intervenções direcionadas. Estudos futuros devem explorar os efeitos do aumento do tabagismo sobre outras morbidades no cenário pós-pandêmico e seus impactos na saúde pública. Tais estudos são cruciais para a elaboração de políticas públicas eficazes que promovam a cessação do tabagismo e a melhoria da saúde da população.